Novembro foi marcado por um certo otimismo no mercado internacional. Alguns dados de inflação americana vieram abaixo do esperado, o que acarretou queda consistente nos juros futuros e boa apreciação da Bolsa americana (+5,4%). Isso indica que o mercado espera menor aperto monetário para conter a inflação nos próximos meses.
Entretanto, vários analistas e a própria comunicação do Banco Central americano (Fed) indicam o contrário: que reduzir a inflação não é um processo fácil e que para isso os juros deverão ficar altos por um longo período. A Auro concorda com esta visão de juros altos por mais tempo e está prevendo desvalorização da Bolsa americana nos próximos meses, razão pela qual, não está investindo nesta classe de ativos diretamente.
No Brasil, um forte pessimismo tomou conta do mercado, em razão dos primeiros passos do novo governo. Apesar dos discursos pontuais de responsabilidade administrativa e recuperação de uma rota de crescimento sustentável, o que os fatos indicaram neste momento foi o oposto. O Congresso está em uma campanha de busca de cargos e posições na máquina pública, leis importantes estão sendo alteradas na calada da noite, há um aumento de gastos muito acima da responsabilidade fiscal, estão sendo propostos maiores investimentos em estatais e há projetos contrários a programas de concessões e privatizações. No fundo, o núcleo duro do PT tem sido colocado nas posições chaves do governo, e apoiadores de última hora, que emprestaram prestígio à campanha vencedora, têm sido pouco ouvidos.
Desses novos fatos, o mais relevante foi o grande pacote de estímulos para lidar com promessas de campanha que está sendo conduzido em Brasília, causando preocupações de um descontrole da dívida pública. Normalmente, dívida pública crescente causa aumento de juros, redução de crescimento e inflação. O mercado chegou a pensar que economistas mais ortodoxos fossem assumir o Ministério da Fazenda e/ou suas secretarias, como ocorreu no primeiro mandato Lula, mas isso não deve ocorrer. Até o início de janeiro o restante do time econômico será conhecido e novas estimativas serão feitas sobre o cenário de 2023. Além do cenário político, dados publicados recentemente mostraram uma desaceleração da economia local, uma consequência esperada de uma taxa de juros tão alta como a atual.
Estas notícias causaram perdas relevantes nos investimentos em renda fixa atrelada a inflação e pré-fixados (-0,8%), além de impactos negativos na Bolsa (-3%). As ações de empresas menores sofreram ainda mais, com perda de 11%.
Como contraponto a este lado tão negativo dos últimos dias, há a parte positiva que pode surpreender. A China está em lento processo de abertura, que pode impulsionar commodities e melhorar nossas exportações. O Brasil tem uma matriz energética segura e majoritariamente limpa estando distante de uma energia mais cara dos próximos anos. O país também se destaca frente aos outros emergentes, pois está livre de guerras e de estados totalitários.
Na estratégia de investimentos, como estávamos com uma visão mais conservadora desde a metade do ano, os impactos foram menores nas carteiras dos clientes. Manteremos os investimentos nos mesmos patamares atuais e acreditamos que o mercado deve se ajustar e reduzir sua volatilidade tão logo os anúncios das equipes sejam feitos. Com isso, teremos uma visão dos próximos passos e faremos as correções de rota necessárias.
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